São Paulo — A Polícia Militar de São Paulo matou 760 pessoas em 2024, segundo ano da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). O número é 65% maior do que o total registrado em 2023, quando 460 pessoas foram mortas por policiais militares no estado.
O ano de 2024 marca a volta do crescimento da letalidade policial em São Paulo, depois de um movimento de queda que teve início em 2021. O último ano com tantas mortes decorrentes de intervenção policial (MDIP) foi 2020, quando foram registradas 796 ocorrências do tipo.
Os dados, que contabilizam ocorrências de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano, fazem parte de um relatório do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp), do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Mais de 2 mortes por dia
As 760 mortes cometidas por PMs em 2024 no estado de São Paulo representam mais de dois homicídios por dia. Em 2023, essa taxa era de pouco mais de uma execução por dia (1,2 mortes).
De acordo com o levantamento, fevereiro foi o mês mais letal do primeiro semestre do ano, com 84 mortes. Na época, estava em andamento a Operação Verão, na Baixada Santista, que vitimou 56 pessoas somente no litoral paulista.
Mas o mês mais letal do ano ocorreu no segundo semestre, em outubro, com 86 mortes causadas por policiais militares. Na época, foram realizadas as eleições municipais.
Nos primeiros dias do mês, o número de mortes em decorrência de intervenção policial em 2024 já havia superado o índice de 2023.
Casos mais emblemáticos
Na noite de 5 de novembro de 2024, o menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morreu após ser atingido por uma bala perdida disparada durante operação policial no Morro do São Bento, em Santos. Outros dois adolescentes, de 17 e 15 anos, foram baleados. O mais velho também morreu na troca de tiros com PMs.
Segundo a mãe do menino, Beatriz da Silva Rosa, a criança dizia que queria morrer para reencontrar seu pai, que foi fuzilado em fevereiro por PMs durante a Operação Verão.
Dois dias antes, em 3 de novembro do ano passado, um policial militar que se preparava para iniciar um dia de expediente matou um suspeito de furto com 11 tiros. Gabriel Renan da Silva Soares tinha 26 anos e foi alvejado pelas costas. Ele teria roubado embalagens de sabão líquido de uma unidade do Oxxo na Avenida Cupecê, zona sul de São Paulo.
Também em novembro, um estudante de medicina de 22 anos foi morto por um policial militar dentro de um hotel na Vila Mariana, zona sul. O PM deu um tiro à queima-roupa no rapaz durante abordagem.
Na última semana, os pais do estudante deram declarações cobrando do governador Tarcísio e do secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, esclarecimentos sobre o caso.
Meses antes, em agosto, dois policiais militares mataram a tiros um homem de 35 anos diagnosticado com esquizofrenia durante um suposto surto psicótico. Denner Wesley Batista dos Santos foi assassinado na frente da mãe.
Homem jogado de ponte
Um caso que não resultou em morte, mas se tornou simbólico porque chamou atenção para as dinâmicas da segurança pública paulista, foi o episódio em que um policial militar jogou um homem de uma ponte.
Um vídeo flagrou o momento em que um PM jogou um homem em um córrego do alto de uma ponte na Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo.
O homem atirado da ponte sobreviveu, mas deixou a cidade por medo de retaliação de PMs. Naquela semana, um grupo armado visitou de madrugada a rua onde ele morava.
O que diz a SSP
Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que não compactua com excessos ou desvios de conduta, “punindo exemplarmente aqueles que infringem a lei e desobedecem aos protocolos estabelecidos pelas forças de segurança”.
Segundo a pasta, todos os casos de MDIP são rigorosamente investigados pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento das corregedorias, do Ministério Público e do Poder Judiciário.
“Nos casos em que essa dinâmica não é comprovada na investigação, os agentes envolvidos são punidos conforme determina a lei. Desde o início de 2023, mais de 300 policiais foram demitidos e expulsos, e mais de 450 agentes foram presos”, diz trecho da nota.
A pasta informou ainda que, para reduzir a letalidade policial, a corporação segue investindo no aprimoramento do efetivo por meio do seu programa de formação continuada, “com capacitações práticas e teóricas, e na aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo. Somado a isso, comissões direcionadas analisam casos desta natureza e ajustam procedimentos de abordagem”.