São Paulo — O Primeiro Comando da Capital (PCC) prepara uma contraofensiva para retomar áreas recém dominadas pela gangue Bando do Magrelo, no interior do estado, de acordo com informações de inteligência da Polícia Militar. Nos últimos meses, o grupo, liderado por Anderson Ricardo de Menezes, conhecido como Magrelo ou “novo Marcola”, teria promovido uma caçada a pessoas supostamente ligadas ao PCC.
Segundo investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP), pelo menos 30 integrantes da maior facção paulista teriam sido assassinadas desde o surgimento do Bando do Magrelo, que até o momento tem atuação em pelo menos oito cidades.
Para frear o avanço dos inimigos, o PCC teria mobilizado os homens mais qualificados do grupo, que compõem a chamada “restrita tática”, uma espécie de tropa de elite do crime.
O grupo, que tem um rigoroso processo de seleção, deve se encaminhar para a região de Rio Claro nas próximas semanas. A previsão, de acordo com informações de inteligência da PM, é de um 2025 sangrento.
A “restrita tática” seria coordenada por Pedro Luiz da Silva Soares, o Chacal, 52 anos, apontado como uma das maiores lideranças do PCC fora do sistema carcerário.
Em outubro de 2023, ele saiu pela porta da frente da Penitenciária Federal de Mossoró após cumprir pena de 9 anos por roubo, ameaça e formação de quadrilha.
Pouco depois de voltar às ruas, um relatório de inteligência do MPSP já apontava o envolvimento de Chacal com a chamada Sintonia Restrita, célula responsável por planejar o ataque contra o senador Sergio Moro (União) e o promotor Linconl Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, o Gaeco.
Segundo informações da Polícia Militar, a “restrita tática” teria feito, recentemente, uma reunião no interior do estado para definir as estratégias a serem adotadas na nova empreitada.
Enfraquecimento ou desinteresse
Autoridades ligadas às polícias Civil e Militar associam a gradual perda da hegemonia do PCC no tráfico de drogas em São Paulo a um suposto processo de enfraquecimento da facção, em razão da transferência de lideranças para presídios federais, de importantes apreensões e do mapeamento da rede de distribuição.
No entanto, para promotores do Gaeco e especialistas em segurança pública, o surgimento de gangues como o Bando do Magrelo e disputas entre traficantes regionais podem estar associados a uma suposta perda de interesse do PCC nos mercados locais.
Focada na expansão internacional, sobretudo para o mercado europeu, a facção teria começado a abdicar do varejo da droga, dando prioridade às rotas que levam os entorpecentes ao Porto de Santos, que segundo o MPSP, gera um lucro anual de R$ 11 bilhões para o PCC.
“Hoje, o tráfico internacional da pasta base de cocaína representa dois terços dos negócios do PCC. Não temos informações sobre o que acontece em outros estados, mas aqui em São Paulo eles praticamente abandonaram as biqueiras internas”, afirma um promotor do Gaeco, ouvido pelo Metrópoles, em reservado.
Para o pesquisador Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, o domínio territorial não faz parte do modelo de negócio do PCC e acontece de forma eventual para garantir o funcionamento das rotas de tráfico até os pontos estratégicos para a exportação da droga.
“O foco do PCC, hoje, é realmente o mercado internacional. O controle que eles exercem é eventualmente sobre rotas do tráfico, dos Andes até a Europa. Não é que eles controlam um território, eles controlam a rede de fornecimento da droga”, diz.