Defesa de ex sobre mulher que ficou com prêmio da Mega: “Sorrateira”

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A defesa do ex-marido de uma dona de barraca que ganhou na Mega-Sena disse que a mulher seria “maquiavélica” e “sorrateira”, além de ter agido de má-fé, ao pedir a separação enquanto o homem supostamente tratava problemas do coração num hospital. A empreendedora nega, dizendo que eles ainda estavam em casa quando pediu o divórcio. E justifica que o fim do relacionamento se deu, na verdade, devido à grosseria do homem.

Conforme revelou a coluna, a mulher ganhou o prêmio de R$ 103 milhões na Mega-Sena em outubro de 2020 e, agora, o ex-marido a processa cobrando a metade do valor. Ela diz que apostou sozinha, enquanto ainda eram noivos. Ele alega que já mantinham uma união estável. A identidade de ambos será preservada por questões de segurança.

“Agindo de má-fé, sendo maquiavélica e sorrateira com relação aos valores do casal, de forma que logo após transferir todo o dinheiro do casal, de forma cruel, imediatamente pediu a separação, queria o divórcio, deixando o requerido sem nenhum meio de sobreviver, pois o mesmo ainda precisava fazer a cirurgia, e agora se encontrava sem ter condições financeiras para fazer a cirurgia”, afirmou a defesa dele.

O discurso diverge do que é dito pelo homem. Perguntado se a ex-esposa era generosa com o dinheiro que recebeu da Mega-Sena, o ex-motorista de kombi respondeu: “Sim, não é má pessoa… Não tem o que falar dela sobre a pessoa, não”.

A mulher ganhou R$ 103 milhões na Mega-Sena e se casou com o então motorista de kombi dias depois, em 29 de outubro de 2020. O matrimônio durou só nove meses. Veio, então, o divórcio com uma doação de R$ 10 milhões. Agora, o homem a processa para obter R$ 66 milhões do prêmio, que calcula ser metade do valor, mais danos morais e materiais.

À época, a mulher informou que morava no estabelecimento alugado onde trabalhava, depois de ter sido despejada de uma casa alugada e passou a dormir num colchonete, antes de ganhar na Mega-Sena. Já o homem, então com 58 anos, vivia na casa da irmã em outro bairro – apesar de ter uma casa alugada.

“No meu estabelecimento eu tinha esse colchonete, aí minhas roupas eram dentro de uma caixinha lá de papelão, mas eu tinha em outra área que eu cozinhava um fogão, uma geladeira, umas panelinhas”, prosseguiu.

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Uma das discussões levantadas pela defesa do ex-marido gira em torno do relacionamento que os dois tiveram antes do casamento. O homem alega que ambos viveram uma união estável durante esse período e, portanto, ele teria direito a uma parte do prêmio da Mega-Sena.

Judicialmente, toda união estável não registrada em cartório, mas depois comprovada, ocorre em comunhão parcial de bens. Isso daria a ele metade do prêmio, conforme pediu na Justiça. Mas esse tipo de união precisa ser duradoura, pública e com intenção de constituir família para ser caracterizada como tal. O relacionamento dos dois, no entanto, durou apenas sete meses entre o início do namoro e o casamento, e eles sequer moravam juntos.

A mulher relatou que morava dentro da barraca de lanchonete dela, depois de ter sido despejada de uma casa alugada. Já o homem vivia na casa da irmã em um outro bairro da cidade.

Para tentar comprovar a união estável, o homem alegou que os dois tinham relações sexuais antes do casamento e acrescentou que dormiam juntos em um colchonete de solteiro dentro da barraca dela. “Às vezes, você tem uma mulher que é fogosa, né? Não tem como segurar”, afirmou. A mulher, por sua vez, nega a intimidade. Em depoimento, ela explicou ser evangélica e assegurou que “não teve nenhum contato” com ele antes do matrimônio. A empreendedora acrescentou que ficaram noivos com pouco tempo de namoro pois “a igreja não quer que demore muito tempo para não fazer ato sexual antes de se casar”.

O homem acrescentou que os dois tinham uma conta-conjunta bancária, mas que nunca fizeram movimentações financeiras. Documento da Caixa Econômica juntado ao processo, porém, aponta que se trata de uma conta individual.

A defesa dele afirmou à coluna, ainda, que os números e o dinheiro apostado eram dele. Novamente, ela nega.

Processo da Mega-Sena

Além do casamento em separação total de bens, consta na certidão de divórcio que não havia bens a partilhar. A empreendedora, que considera o prêmio da Mega-Sena um “milagre”, disse que se separaram devido a grosserias por parte dele. “Ele não tinha modos.” Já a defesa dele disse à coluna que ela terminou com ele enquanto estava internado para tratar problemas no coração.

O processo, obtido pela coluna, foi impetrado na Justiça um ano após o fim do relacionamento, porque, justifica a defesa, ele estava com medo do “poderio econômico” dela. Mais um ano se passou até que houvesse um pedido cautelar para bloqueio de bens.

Nele, constam doações dela ao então marido e aos filhos dele. Amigas também foram agraciadas financeiramente, com quantias por volta de R$ 100 mil a R$ 120 mil, de acordo com depoimento dela.

Segundo a defesa dela disse à coluna, a mulher chegou a mudar de cidade por razões de segurança diante da fortuna da Mega-Sena. Vive, hoje, com parte do prêmio, já que a Justiça bloqueou o restante a pedido dele, em dezembro de 2023.

A decisão sobre o futuro do dinheiro da Mega-Sena – será partilhado ou não? – ficará a cargo da Justiça. Caberá recurso. O destino de ambos, portanto, ainda está em aberto.