São Paulo — Após renunciar ao cargo de presidente da Bola de Neve, a pastora Denise Seixas, que brigava judicialmente pelo comando da instituição, desistiu das acusações ao conselho deliberativo da igreja de desvio de dinheiro e fraudes. No entanto, apesar do pedido da viúva do apóstolo Rina pela extinção do processo, a Polícia Civil ainda investiga irregularidades na organização religiosa.
Conforme apurado pelo Metrópoles, no Ministério Público de São Paulo (MPSP), a Subprocuradoria-Geral de Justiça Jurídica recebeu o caso em 16 de dezembro de 2024 e o encaminhou para a 5ª Promotoria de Justiça Criminal em 7 de janeiro deste ano. No dia 31 do mesmo mês, a promotoria requisitou instauração de inquérito policial.
Entenda a disputa judicial
- Composta por mais de 500 templos e com cerca de R$ 250 milhões de arrecadação anual, a instituição reúne milhares de pastores, líderes religiosos e fiéis.
- Após a morte do fundador, Rinaldo Luiz de Seixas, vítima em novembro do ano passado de um politraumatismo depois de um acidente de moto, a viúva de Rina e o conselho deliberativo foram protagonistas de ampla disputa pelo comando da sede religiosa.
- A pastora e cantora gospel Denise Seixas acusou o colegiado de fraude e desvio de dinheiro.
- Um documento com supostas provas foi enviado ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), que investiga o caso.
- Denise reuniu indícios de atuação indevida por parte de membros do conselho deliberativo da Bola de Neve, que, segundo ela, “poderiam resultar em sérios prejuízos irreparáveis de ordem material e/ou moral, principalmente com relação à sua credibilidade pública”.
- A Justiça reconheceu Denise como presidente interina da igreja evangélica. No entanto, ela renunciou ao cargo em 13 de fevereiro.
Denúncia de desvio de dinheiro na Bola de Neve
Denise Seixas teria oficializado o Banco Bradesco, instituição financeira em que mantém a conta corrente da igreja, para cumprimento de ordem judicial. Ela havia solicitado o acesso a todas as contas de titularidade da Bola de Neve, após a morte do ex-marido.
No entanto, a pastora acusou o conselho de ter passado a movimentar as receitas recebidas pela instituição religiosa por meio de outra conta bancária, mantida em outra instituição financeira, sob o nome fantasia BMP Money Plus, com razão social BMP Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e a Empresa de Pequeno Porte Limitada.
De acordo com a defesa de Denise, por meio da instituição financeira BMP Money Plus, os acusados teriam recebido as receitas de titularidade da igreja, mediante a emissão de notas fiscais. No processo, a pastora apresentou 10 comprovantes, supostamente emitidos entre janeiro e outubro de 2024, que totalizam mais de R$ 442 mil.
Na notificação judicial, equipe jurídica da pastora pediu que os envolvidos prestassem esclarecimentos necessários sobre a movimentação de contas correntes de titularidade dela, assim como a vigência de decisões judiciais no sentido de impedir a referida movimentação financeira, sob pena de incorrer na prática do crime de desobediência.
Conforme documento obtido pelo Metrópoles, a SIAF Solutions Serviços de Tecnologia Limitada, registrada no nome de Ribeiro, controlava a receita com dízimos e taxas e arrecadou cerca de R$ 492 mil por meio de 57 notas fiscais reunidas. A empresa de softwares, que também prestaria serviços para outras igrejas evangélicas, fornece maquininhas de cartão.
O objetivo seria supostamente “centralizar ao máximo toda a arrecadação de dízimos e doações”, segundo a denúncia. “Há a aplicação de uma taxa que pode variar de 3% a 5% sobre o total arrecadado nos templos da Igreja Bola de Neve”, diz a peça.
Entre as acusadas, também está a empresa Green Grid Energy, fundada por Ribeiro e responsável por serviços de consultoria financeira à igreja. O arquivo enfatiza que a companhia, criada em maio deste ano, declarou faturamento de R$ 6 milhões.
Outra empresa citada na denúncia é a Filhos do Rei Serviços de Conservação, que tem como sócia Kelly Cristina Ribeiro Bettio, irmã de Everton Ribeiro. Ela emitiu notas fiscais que chegam a um valor milionário, “embora não se tenha clareza acerca da natureza dos serviços contratados” pela Bola de Neve.
Posicionamento da igreja
O conselho deliberativo da Bola de Neve disse que a gestão está “totalmente de acordo com a legislação e boas práticas de conformidade”. O colegiado também assegurou que a igreja segue à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades competentes.
“Há mais de uma década, as contas e os contratos da organização são auditados anualmente e aprovados sem restrições por empresa multinacional, cuja expertise e seriedade são reconhecidas pela qualidade e regularidade dos serviços prestados. Os contratos questionados, aliás, datam de um período em que a própria pastora Denise fazia parte da direção da igreja”, apontou, em nota.
Citado na denúncia, Everton César Ribeiro argumentou que Denise Seixas faz acusações falsas. “Nossos contratos são regulares e auditados e foram firmados quando a pastora ainda ocupava a direção da igreja, o que permite concluir que ou ela age com má-fé ou omissão”.