São Paulo — O barbeiro conhecido como Dill Black, de 42 anos, foi alvo de uma “brincadeira” racista em um cruzeiro que saiu do Porto de Santos, no litoral de São Paulo, no dia 7 de abril.
Ao Metrópoles, Dill contou que no navio, o MSC Seaview, um funcionário teria levantado as mãos e agido como se o barbeiro e seus dois amigos fossem assaltantes que estavam roubando ele.
“Ele falou umas três vezes: ‘pode levar, leva tudo que vocês quiserem’, com a mão estendida e eu fiquei olhando para a cara dele […] Ele abaixou a mão e falou que estava brincando. Isso conflitou minha mente, eu não estava esperando uma brincadeira como essa”, lamentou.
Dill Black (foto em destaque) é dono de uma barbearia em Moema, na zona sul de São Paulo, tem quase 30 anos de carreira e mais de 100 mil seguidores. Ele estava no cruzeiro para comparecer ao evento Cruzeiro Barber, onde seria um dos palestrantes. Nas redes, ele cita como clientes os cantores Belo, Latino e Naldo.
O que aconteceu com o barbeiro
- O barbeiro embarcou no cruzeiro na noite do dia 6 de abril e, ao chegar, decidiu se separar de seus colegas para comprar um pacote de internet.
- Um amigo foi com ele e, chegando no andar em que poderia realizar a compra, eles se encontraram com mais um barbeiro, que também ia colocar internet no celular.
- Dill e os amigos ficaram 25 minutos na fila, aguardando sua vez. Durante esse tempo, perceberam que eram os três únicos negros no local.
- Na vez dos três barbeiros serem atendidos, eles já foram, de imediato, recebidos pela “brincadeira” do funcionário da MSC.
Na hora, Dill informou ao funcionário que não havia gostado da atitude dele. O homem, então, se desculpou. Mesmo assim, o barbeiro decidiu procurar a recepção para pedir auxílio, o que não aconteceu.
Ainda incomodado e sem ajuda da equipe da MSC, o profissional decidiu procurar outro funcionário e relatar a situação. Essa pessoa o aconselhou a voltar para a recepção e falar com a gerente.
“Eu comentei com ela [gerente] que eu nunca faria um gesto desse com um cliente amigo meu e também não faria isso com uma pessoa que eu não conhecesse. É um gesto negativo”, contou Dill. Ele pediu que ela escrevesse sobre o ocorrido no diário de bordo, mas ela o recomendou enviar um e-mail para a central da MSC e procurar uma delegacia quando o navio parasse.
Ao desembarcar em Búzios (RJ), o barbeiro se dirigiu à uma delegacia federal. Lá, disseram que não poderiam abrir boletim de ocorrência e que ele devia fazer isso em Santos, de onde o navio saiu.
Ao voltar para o Porto de Santos, Dill foi novamente à Polícia Federal (PF), onde um agente pediu que ele explicasse a situação. “Ele [o policial] falou para mim que não passava de um estereótipo. O funcionário quis brincar comigo com meus dois amigos e, por conta disso, eu tinha que entender que foi uma brincadeira”, disse.
“Eu não gostei muito do que o policial falou, mas, como ele tinha dito que não teve nada associado à minha pele verbalmente, não falou que eu era macaco e não falou sobre alguma questão do meu tom de pele, a brincadeira era pelo estereótipo, pelo fato de eu ter tatuagem”.
Dill, então, procurou a PF em São Paulo e conseguiu abrir o boletim de ocorrência. Ele também decidiu procurar ajuda jurídica e está sendo representado pelo advogado Irapuã Santana, que abriu duas petições na PF sobre o caso.
A organização do Cruzeiro Barber informou que eles são apenas clientes da MSC. “Compramos as passagens e as cabines e fizemos o workshop lá. Estávamos todos juntos desfrutando, porém um funcionário da MSC fez essa tal brincadeira que não admitimos”, falaram.
O Metrópoles procurou a assessoria da MSC Cruzeiros para um posicionamento sobre o caso, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto.