Erevan – No último dia 14 de abril, o chanceler da Armênia, Ararat Mirzoyan, disse que a paz com o Azerbaijão nunca esteve tão perto quanto neste momento. Contudo, o otimismo do ministro contrasta com a insatisfação e desesperança de alguns armênios pelas ruas do país quando o assunto vem à tona.
Questão de Nagorno-Karabakh
- Localizada no sul do Cáucaso, a região autônoma de Nagorno-Karabakh fica dentro do território do Azerbaijão. Contudo, era historicamente povoada por armênios étnicos.
- O primeiro conflito em Artsakh, como também é conhecida a região, explodiu no fim de década de 1980. Um dos principais pontos que desencadearam a violência na área foi uma decisão do parlamento de Nagorno-Karabakh, que na época votou pela unificação da região ao território da Armênia.
- Em 1994, um cessar-fogo foi assinado com a mediação da Rússia. Os armênios étnicos da região se saíram vitoriosos, e ficaram com o controle Nagorno-Karabakh.
- A segunda guerra de Nagorno-Karabakh começou em 2020, quando o governo do Azerbaijão lançou uma operação militar com o objetivo de recuperar seus territórios perdidos durante a década de 1990. Artsakh, contudo, não foi totalmente retomada.
- Três anos depois, forças do Azerbaijão lançaram ofensiva surpresa em Artsakh, para conquistar o território antes ocupado por armênios étnicos.
- Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o episódio fez com que mais de 100 mil armênios étnicos deixassem suas casas em Nagorno-Karabakh. Eles se abrigaram principalmente na Armênia.
Em março, os dois países chegaram ao texto final do plano de paz. O que significaria a chance de mais de 100 mil armênios étnicos retornarem às suas casas em Nagorno-Karabakh.
Desde o anúncio, o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, e diz aguardar apenas data e local para assinar o acordo, e já deu acenos positivos sobre atender condições impostas pelo governo de Ilham Aliyev em troca da paz no Cáucaso.
Entre elas, uma reforma constitucional e a criação de um corredor que cortaria a Armênia para ligar o exclave azeri do Naquichevão – localizado entre o território armênio e turco – ao Azerbaijão.
Sobre a reforma na Constituição, Pashinyan disse ser favorável a remoção de referências à Declaração de Independência em uma possível nova Constituição. O texto fala sobre princípios e direitos de cidadãos armênios, como os que viviam em Nagorno-Karabakh. Mas para o governo do Azerbaijão é visto como uma reivindicação contra o território do país.
Para se tornar realidade, o desejo do premiê da Armênia deve ser submetido a um plebiscito. Mas, pesquisas indicam que mais de 90% da população rejeitaria a mudança constitucional, caso a consulta fosse realizada hoje.

Fontes do Instituto de Pesquisa em Políticas Aplicadas da Armênia (APRI) apontam que, além da desaprovação popular sobre uma possível reforma na lei fundamental do país, o corredor de Zagezur é um outro fator crucial que pode jogar um balde de água fria nas negociações de paz.
O projeto do Azerbaijão é a única forma de ligar a república autônoma do Naquichevão, ao restante do país. Na prática, isso significaria uma violação contra a soberania da Armênia, e dificilmente seria aceito não só pela população, como também por atores políticos locais.
Na tentativa de contornar a situação, o governo de Pashinyan chegou a oferecer uma conexão ferroviária a Baku, mas ainda não obteve resposta. Por isso, muitos armênios enxergam o corredor de Zagezur não só como uma simples ligação terrestre entre Azerbaijão e Nachichevão, mas sim uma oportunidade de tropas azeris se instalarem no território da Armênia.
Acusações
Além das condições impostas por Baku, o plano de paz tem sido ameaçado por retóricas militares entre os dois países.
Nos últimos dias, o governo do Azerbaijão tem acusado tropas armênias de violarem o cessar-fogo na fronteira. Enquanto isso, a Armênia registra episódios de destruição contra estruturas e símbolos dos armênios em Nagorno-Karabakh, que teriam como objetivo o apagamento cultural da população que moravam na região.
O Metrópoles procurou o Ministério das Relações Exteriores para comentários sobre o acordo de cessar-fogo, assim como as alegações de Erevan contra Baku. Até a publicação desta reportagem, não houveram retornos. O espaço segue aberto.
O repórter viajou a convite da União Geral Armênia de Beneficência (UGAB).