Jesus gostava mais da companhia das mulheres do que a dos homens? A teóloga francesa Christine Pedotti, publicou, há algum anos, um livro cujo título não dá margem a dúvida sobre o que pensa sobre o assunto: Jésus, l’homem qui Préferait les Femmes (Jesus, o Homem que Preferia as Mulheres).
Ela diz que, nas Escrituras, “em mais de uma ocasião, Jesus parece mais à vontade e mais relaxado com as mulheres, enquanto se mostra habitualmente incomodado, irritado, pelos seus contemporâneos homens e, em particular, pela hipocrisia das suas práticas religiosas”.
Em compensação, afirma a autora, “não encontramos a menor menção depreciativa em relação às mulheres; ao contrário, observamos da parte de Jesus uma benevolência constante, uma atenção especial, uma forma de ternura para com elas”.
Christine Pedotti aponta ainda que, nos Evangelhos, as mulheres “falam, reclamam, exigem, suplicam, discutem, e Jesus as observa, fala com elas, as tocas, as consola, as admira”.
Em nenhum momento, Jesus as condena; pelo contrário, desafia quem nunca pecou a atirar a primeira pedra em uma adúltera que se queria condenar ao apedrejamento; permite que uma prostituta o siga como se fosse um dos seus discípulos (e Maria Madalena o era).
Muito tempo atrás, quando que eu ainda me interessava profissionalmente pelo catolicismo e era o vaticanista da Veja — cobri dois conclaves em Roma: no primeiro, antecipei a eleição de Ratzinger; no segundo, falhei miseravelmente ao descartar a eleição de Bergoglio —, li um livro intitulado The Rise of Christianity (A Ascensão do Cristianismo), do sociólogo americano Rodney Stark.
É uma obra com certo grau de provocação, porque o sociólogo mostra como o cristianismo foi, na sua origem, uma religião inovadora e libertadora para as mulheres, ao defender aquilo que, hoje, é visto como ultrapassado e aprisionador e, assim, abrir-lhes uma nova perspectiva de vida.
Primeiro exemplo: em uma época em que as mulheres viam-se obrigadas a abortar por homens que não lhes queriam dar filhos, a proibição do aborto lhes conferiu o direito à reprodução segundo a sua própria vontade — e, não esqueçamos, o direito de não morrer pelas mãos de um aborteiro.
Segundo exemplo: ao dificultar a prática de trocar esposas mais velhas por esposas mais jovens, a indissolubilidade do casamento proporcionou estabilidade familiar às mulheres, evitando que muitas rejeitadas perecessem no mais completo abandono.
Fatores como esses foram essenciais para que mulheres de todas as classes sociais se tornassem propagadoras do cristianismo no Ocidente — e o impulso feminino foi decisivo para que ele já tivesse enorme difusão quando Constantino o transformou em religião oficial do império romano.
Se as mulheres viriam a ser as maiores divulgadoras da palavra cristã, é o caso de perguntar se a preferência de Jesus pela companhia feminina não teria obedecido, então, ao plano divino. E talvez tenha feito parte do plano que fossem somente mulheres a deparar-se com o túmulo vazio de Jesus e a ouvir de um anjo que Ele havia ressuscitado.
O testemunho exclusivamente feminino é tão mais extraordinário porque, como escreveu o cardeal Gianfranco Ravasi, na sua biografia de Jesus, “no direito semítico, as mulheres não estavam habilitadas a testemunhar”. No entanto, foi dado a elas revelar a mensagem que está na essência do cristianismo, e sem a qual a religião não teria conquistado bilhões de adeptos ao longo de 20 séculos: a mensagem da Ressurreição para a vida eterna.
Boa Páscoa a todos, mas principalmente às mulheres, porque tenho a mesma preferência de Jesus, guardadas as nossas infinitas diferenças, inclusive a minha total falta de planos.