Uso de jatinho e filiação em massa acirram disputa pelo comando do PT

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São Paulo — O PT se prepara para uma das eleições mais acirradas dos seus 45 anos de história. Com cinco candidatos declarados, o processo eleitoral direto deve ter dois postulantes da corrente majoritária, além de concorrentes que defendem um posicionamento do partido mais à esquerda.

O favorito é o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, que tem a benção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, dentro da mesma corrente, Construindo um Novo Brasil (CNB), o prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, também anunciou que lançará candidatura no próximo dia 13/5, em evento no Circo Voador, a mais tradicional casa de shows do Rio de Janeiro.

Além do racha na corrente majoritária, Romênio Pereira, do Movimento PT, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, e Rui Falcão, da Novo Rumo, também devem disputar as eleições internas. O primeiro turno, com votação de quase 3 milhões de filiados, está marcado para 6 de julho — já o 2º turno, se necessário, será no dia 20/7.

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Lula e Washington Quaquá

Rui Falcão, deputado do PT
Gleisi Hoffmann, ex-presidente nacional do PT
Humberto Costa, presidente nacional do PT
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Lula e Edinho Silva

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Lula e Washington Quaquá

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Rui Falcão, deputado do PT

Reprodução/PT

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Gleisi Hoffmann, ex-presidente nacional do PT

Hugo Barreto/Metrópoles

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Humberto Costa, presidente nacional do PT

VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto

 

Jatinhos para campanha

As eleições petistas estão envoltas de ataques, velados ou não, entre os candidatos. Uma das principais polêmicas envolve o uso de jatinhos por Edinho Silva para viajar pelo país em campanha. Recentemente, ele admitiu que usou o avião de um produtor rural filiado ao partido para viajar para o Centro-Oeste.

O avião pertence ao assessor do Ministério da Agricultura, Carlos Augustin, conhecido como Teti, que emprestou o veículo para uma viagem de Palmas (TO) a Cuiabá (MT).

Rui Falcão, sem citar nenhuma outra candidatura para não “personalizar o debate”, disse ao Metrópoles que irá antecipar o seu registro como candidato para usufruir do direito de dez viagens bancadas pelo partido aos candidatos em campanha.

Ele destacou que o roteiro começou a ser discutido em 17 de abril, após reunião dos coordenadores de sua campanha. E o registro de candidatura deve ocorrer na próxima semana, apesar das chapas nacionais terem até o dia 19 de maio para serem oficializadas.

Aliados de Edinho minimizam o impacto da candidatura de Falcão porque dizem que nomes importantes do Novo Rumo, como o integrante do diretório nacional do partido José Américo, o líder do PT na Assembleia Legislativa paulista, Antonio Donato, e o deputado federal Carlos Zarattini, vão apoiar o candidato preferido de Lula.

“Antes da minha candidatura, eu creio que eles já tinham se comprometido com o Edinho. Mas não tem fechamento de questão, nem centralismo”, disse Falcão ao Metrópoles.

O adversário mais “preocupante”, na visão dos aliados de Edinho, é Washington Quaquá. A candidatura dele irá deflagrar de vez um racha na corrente majoritária, que se formou de um grupo dissidente que quer manter o controle da tesouraria, hoje é ocupado por Gleide Andrade.

Além da tesoureira, fazem parte desse grupo o deputado federal Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT, o atual presidente do partido Humberto Costa, o líder do governo na Câmara, José Guimarães , a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, ex-presidente da legenda, e o senador Beto Faro.

Filiações em massa

Outra preocupação externada por aliados de Edinho é um inchaço de filiações do PT no Rio. Em março, a Secretaria Nacional de Organização do partido divulgou 340 mil novos filiados ao partido.

Boa parte das adesões ocorreram no Rio de Janeiro, com destaque para Maricá, cidade que Quaquá assumiu a prefeitura em 2025, após se licenciar da Câmara dos Deputados. O número é visto com desconfiança por aliados de Edinho pois, apesar de o PT vencer as eleições de Maricá, Lula perdeu para Jair Bolsonaro no município na eleição presidencial de 2022.

Além do Rio de Janeiro, a dissidência da CNB também tem força em Minas Gerais, mas está enfraquecida em São Paulo, onde a família Tatto ainda exerce influência, apesar de ter perdido a disputa por espaço interno no PT.