São Paulo — Janeiro é o mês do ano em que catástrofes naturais, como inundações, deslizamentos, enchentes e alagamentos, se tornam mais frequentes. O aumento das chuvas e a ocupação desordenada das cidades, em decorrência do período de férias, torna este período como o mais propício para situações de emergência.
Peruíbe, no litoral de São Paulo, por exemplo, está assolada devido aos desastres naturais. O município decretou estado de emergência após alagamentos e deslizamentos. Em um dia (9/1), choveu mais do que o esperado para o mês inteiro na cidade.
De acordo com a Defesa Civil do Estado, na manhã de sábado (11/1), 465 pessoas foram abrigadas nos três abrigos montados em Peruíbe. Somente nessa manhã as águas começaram a baixar, informou o órgão.
Em situações de emergência, o medo pode tomar conta – especialmente enchentes e alagamentos, que são mais frequentes em época de chuva. Nesses momentos, é preciso ter cautela, mas, ao mesmo tempo, agir com rapidez.
O que fazer em caso de enchentes e alagamentos
Ao receber um alerta da Defesa Civil, o indicado é permanecer em locais seguros, longe das áreas de risco.
“Procure locais com estruturas que não estejam sujeitas a inundação. Caso esteja se deslocando em vias públicas e seja surpreendido pelas chuvas, procure um local elevado e aguarde o volume de água baixar em um local seguro, mesmo que seja um local conhecido”, destaca a capitã Lidiara Lenarduzzi, diretora da divisão de preparação da Defesa Civil
Léo Farah, fundador da ONG HUMUS e capitão da reserva do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, recomenda procurar locais altos, em que já se sabe que não há risco de alagamento.
“As pessoas no geral, nas cidades, já sabem quais são as ruas que alagam, quais são os locais propensos a ter deslizamentos. Então, [a dica] é evitar enfrentar esses riscos, evitar estar nesses locais de perigo”, disse.
O bombeiro da reserva aconselha ainda que, se a pessoa está de carro, é importante observar se a água (de uma enchente, inundação ou alagamento), não passou da linha média dos pneus.
“Se ainda não passou, essa pessoa pode pegar um bastão, um guarda-chuva, algo para tatear o solo para ver se não tem nenhum buraco e ir para uma parte mais alta. A partir do momento que a água passou da linha média dos pneus, o que a gente orienta é a pessoa abrir o vidro e ir para o capô do carro, que é a parte mais segura”, indica Léo.
Segundo a Defesa Civil, 15 centímetros de água são suficientes para arrastar uma pessoa; no caso de veículos, bastam 30 centímetros
Antes de subir no capô, segundo o especialista, é importante ligar o pisca-alerta do veículo para que as pessoas saibam que aquele carro está numa situação de risco.
Deslizamento: os sinais de alerta
Deslizamentos são especialmente perigosos, já que colocam a estrutura de construções em risco, apresentando um risco ainda maior à vida. Lidiara destaca que, ao perceber rachaduras no solo, muros inclinados ou água turva saindo do solo em residências ou comércios, é fundamental evacuar o local imediatamente.
Além disso, a capitã da Defesa Civil aconselha acionar o acionar o serviço de emergência através dos números 199 (Defesa Civil), 193 (Corpo de Bombeiros) e 190 (Polícia Militar).
Léo indica se informar com antecedência sobre os horários em que a chuva está prevista e ficar atento aos sinais descritos por Lidiara.
“Saia o mais rápido possível para ir para a casa de um parente ou de um amigo que seja segura. Porque esses deslizamentos podem acontecer, por exemplo, na madrugada, quando está todo mundo dormindo, e pega todo mundo de surpresa. Então, é um fator que é um perigo muito grande”, ressalta.
O que nunca fazer em situações de emergência
O medo pode levar a situações precipitadas, que aumentam ainda mais o risco de emergências naturais. Os especialistas destacam o que nunca deve ser feito. Veja:
- Não se deslocar, a pé ou de carro, em locais que estejam inundados. “Pois, além da força da água, podem haver buracos, objetos se deslocando com as enxurradas que não conseguimos visualizar e possam nos atingir, e assim, sermos sugados ou levados juntamente com a correnteza”, disse Lidiara.
- Não ignorar os alertas que são emitidos e permanecer nas áreas de risco, aponta a profissional da Defesa Civil.
- Nunca se abrigar em locais vulneráveis, como árvores, ao lado de muros, interior de veículos, entre outros, alerta a capitã.
- Jamais voltar para o local de risco para pegar objetos de baixo valor. “Muitas vezes a gente ouve histórias como essa, a pessoa volta para pegar às vezes um aparelho de som, uma caixa de som, álbum de fotografia e acaba sendo vitimada com isso”, disse Léo.
- Nunca enfrentar a correnteza ou deslizamento. “Uma água na altura da canela ou até mesmo do joelho, dependendo da velocidade, é suficiente para derrubar uma pessoa”, destacou o bombeiro da reserva.
- Se você não estiver preparado, nunca entrar numa área de desastre, como um grande deslizamento ou uma grande enchente. “Porque você acaba virando uma vítima”, alertou o especialista.
Farah destaca que, na tentativa de ajudar uma pessoa em situação de risco, a própria pessoa que ajuda pode precisar de resgate. “O que a gente orienta é pedir o socorro o mais rápido possível. Se você não estiver preparado, não ajude”, afirmou.
“A melhor coisa que você pode fazer é ligar aí 199 para a Defesa Civil, 193 para o Bombeiro, 192 para o SAMU e 190 para a Polícia”, disse.
Ele destaca que costuma ser difícil até mesmo para as equipes de resgate chegarem ao local, “mas o que a gente orienta é que as pessoas não enfrentem esse perigo”.
Reduzindo a exposição ao risco efetivamente
Quanto maior a vulnerabilidade em que uma população se encontra, maior o risco que ela corre em situações de emergência. “Quando a gente fala em desastre, é como se fosse uma fórmula. É o perigo, vezes a exposição, vezes a vulnerabilidade”, disse Léo Farah.
Em 2023, o estado de São Paulo tinha 500 mil pessoas morando em 848 áreas de risco, segundo informações do Serviço Geológico do Brasil, ligado ao Ministério de Minas e Energia (MME). Esse total fez de SP o 4º estado com mais áreas de risco do país.
Naquele ano, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) registrou o maior número de ocorrências de desastres no Brasil. A cidade de São Paulo ficou em segundo lugar no ranking de capitais, com 22 ocorrências.
“O perigo não tem como a gente diminuir, não tem como a gente diminuir a chuva, não tem como a gente diminuir, por exemplo, um terremoto, vendavais, ciclones, mas a gente pode diminuir a exposição e a vulnerabilidade. A exposição é não colocando pessoas em áreas de risco, e a vulnerabilidade é quando você tem, por exemplo, casas mais seguras”, destacou o bombeiro da reserva.
Para Lidiara, o risco pode ser reduzido através da educação da população, campanhas e realização de simulados de abandono, voltados à população de áreas vulneráveis, além do planejamento urbano e monitoramento dessas áreas.
Como se manter em alerta – e, assim, em segurança
A capitã da Defesa Civil de SP lembra que, desde dezembro, o órgão conta com o sistema Defesa Civil Alerta, que emite alertas à população, dispensando o cadastro do cidadão em plataformas.
“O alerta é enviado através das operadoras de telefonia celular, destinado a um polígono determinado, visando a prevenção e redução de pessoas que possam ser atingidos durante eventos severos e extremos”, explicou.
A implementação da plataforma foi coordenada pela Defesa Civil Nacional e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e executada prestadoras de telefonia móvel (Algar, Claro, Tim e Vivo).
O objetivo, segundo o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), é complementar outras ferramentas de alertas de emergência disponíveis para prevenção e mitigação dos impactos causados por desastres. O conteúdo dos alertas é de responsabilidade da Defesas Civis de estados e municípios.